Dionee Pinheiro1 Ulisses W. Rocha de Moura2 Em virtude de um trabalho tão sensível e singular de retomada e de análise do material intercambiado entre Carlos Drummond de Andrade e Nevinha Pinheiro, foi-me pedido pelo autor, Antônio de Brito Freire, do presente livro “Poética da Incorrespondência...,” para escrever sobre minha relação com a crítica literária, romancista e jornalista em questão. Sou Dionee Pinheiro de Lima, autora do livro “Echo da Serra”, publicado pela EDUEPB, no ano de 2018 e irmã da escritora, jornalista e crítica literária, Nevinha Pinheiro. Muito me apraz ser sua irmã. 1 Professora primária e autora do livro "Echo da Serra" publicado pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba-EDUEPB 2 Licenciado e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe-UFS e Especialista em Práticas Interdisciplinares em Educação pela Universidade Estadual da Paraíba-UEPB e professor da Secretaria de Educação do Estado da Paraíba. Desde criança, Nevinha demonstrava ser bastante inteligente e desembaraçada. Cresceu com o hábito de ler tudo que via à sua frente. Ainda adolescente descobriu que era preciso alçar voo, uma vez que no ambiente em que vivia, Serra Redonda-PB, pequena cidade do interior paraibano (com uma estimativa de 4 mil habitantes) não dava para a mesma alcançar sua realização pessoal que era conhecer o mundo de outros grandes centros, já que, segundo ela mesma dizia, “sentia algo estranho à sua mente” que a impulsionava a fazer perguntas sobre os problemas da vida e sobre sua realidade que estava além de sua pacata cidade. Ainda adolescente foi estudar em Campina Grande, cidade polo da região onde nasceu (30 km de Serra Redonda à época), no Colégio Estadual da Prata. Depois foi para a capital do Estado, João Pessoa, onde concluiu o ensino clássico no Liceu Paraibano. Nossa irmã, Marluce Pinheiro, a qual já estava no Rio de Janeiro, mandou chamá-la para fazer-lhe companhia, mas, sobretudo, com a intenção de que ela continuasse seus estudos para que pudesse se realizar profissionalmente. Assim, Nevinha prestou o vestibular na UERJ e foi aprovada com ótima média para cursar Jornalismo. A partir daí, fez amizades e criou um círculo de amigos ligados às letras e ao jornalismo. Deste modo, Nevinha passou a se relacionar com pessoas dos mundos da cultura e do jornalismo. Com o passar do tempo, devido seu gosto apurado por diversas leituras, especialmente de autores interessantes, acabou se ligando, de modo especial, às poesias de Carlos Drummond de Andrade, do qual foi uma exímia crítica literária. Evidentemente que sua aproximação com o poeta de Itabira se dera pelo fato de Nevinha já ter ligações tanto com Érico Veríssimo quanto com Josué Montello. Autores de renomes nacional. Através da amiga, Zélia Ferreira, começou a trabalhar no setor de revisão do Jornal do Brasil. A partir daí, certamente, Nevinha descobriu que tinha o “dom” e a competência de atuar como crítica literária. Provavelmente, a partir de uma crítica à poesia de Drummond, tenha chegado até o poeta. Foi aí que ele descobriu que Nevinha conhecia muito bem a sua poesia. Desde então, o poeta percebeu seu talento para fazer críticas ao que escrevia. Acredito que foi depois dessa percepção que ele se tornou seu amigo de correspondências. Pelas cartas e ligações telefônicas entre ambos, Nevinha, sempre demonstrou sentir um prazer muito grande por tornar-se amiga deste expoente da literatura nacional e internacional. Nevinha era muito invejada, por exemplo, contou-me que no Jornal do Brasil quando telefonavam para ela, as colegas diziam em tom de deboche: “Quem será? Drummond ou Tristão de Ataíde?” Ela, porém, me confirmou, que não dizia nada, que fazia de conta que nada ouvia e sempre me falava: “É estranho, fico me questionando, eu, uma pessoa simples, de uma cidade do interior do nordeste chegar a ser crítica literária e chegar a ser amiga de Érico Veríssimo e Carlos Drummond de Andrade e estes terem uma grande intimidade comigo. O que mais me estranha é que Drummond não queira que eu o conheça pessoalmente. Eu digo a ele ‘eu vou discretamente a Ipanema onde o senhor sempre fica sentado’ ele diz: ‘Não Nevinha, não venha, não compensa você me conhecer’. Altas horas da noite ele me ligava e ficava conversando, ás vezes ele desligava”. Nevinha dizia: “É ele, mas fica chato retornar porque é muito tarde da noite”. Para que possamos entender o grau da amizade, admiração e considerações mútuas, além das inúmeras correspondências, em cartas, cartões e telefonemas, que constam no presente livro e será devidamente abordada pelo autor, ela tinha na parede do seu quarto, um painel em preto e branco com uma foto de Drummond com uma poesia. Nevinha me contou que quando o poeta faleceu, em agosto de 1987, uma noite qualquer, ela ficou olhando o quadro, relendo o poema e pensando consigo mesma: “Onde será que ele está? E coisas do tipo”. A emoção era tanta, que segundo ela: “o painel ficou se deslocando da parede e batendo, o quarto estava fechado, sem corrente de ar, sem ventilação”. Delírio poético ou afinidade poético-espiritual, a verdade é que Nevinha me contou que ficou emocionada pensando nesse acontecimento que nunca mais havia saído da sua memória. Estas são pequenas memórias que emergem sobre Nevinha Pinheiro. Portanto: “São infindos mistérios que existem entre o céu e a terra”, parafraseando o grande William Shakespeare. Publicação EDUEPB disponível no site: http://eduepb.uepb.edu.br/e-books/