Introdução: A estimulação do nervo vago (VNS) é uma abordagem neuromoduladora que tem demonstrado efeitos anti-arrítmicos em vários estudos feitos em animais. Porém, não se sabe se terá os mesmos efeitos em humanos. Esta revisão sistemática tem como objetivo avaliar e sintetizar a evidência disponível sobre os efeitos do VNS na suscetibilidade a arritmias ventriculares em humanos. Métodos: Foram incluídos estudos longitudinais (isto é, ensaios clínicos aleatorizados e estudos observacionais) e casos clínicos da PubMed, Scopus e Web of Science, até Janeiro 2022, que avaliam os efeitos da VNS na incidência de taquicardias ventriculares e nos valores da alternância da onda T (TWA), em humanos. A avaliação da qualidade dos estudos observacionais foi feita usando a escala de Newcastle-Ottawa. A avaliação do risco de viés de ensaios clínicos aleatorizados foi feita usando a segunda versão da ferramenta Cochrane risk-of-bias para ensaios aleatorizados (RoB 2). Resultados: Um ensaio clínico aleatorizado, três coortes prospetivas e dois casos clínicos foram incluídos. O ensaio clínico incluído revelou uma diminuição no número de episódios de taquicardia ventricular em pacientes com enfarte agudo do miocárdio (EAM), e as três coortes incluídas revelaram uma redução nos valores de TWA em pacientes com epilepsia refratária a terapia médica ou com insuficiência cardíaca. Os dois casos clínicos incluídos reportam eventos adversos relacionados com VNS, um resultando em episódios recorrentes de taquicardia ventricular, outro resultando em episódios intermitentes e cíclicos de assistolia. A avaliação da qualidade das coortes prospetivas recolhidas revelou um nível de qualidade. A avaliação do risco de viés do ensaio clínico incluído revelou algumas preocupações. Conclusão: VNS aparenta ter efeitos anti-arrítmicos em humanos com EAM, epilepsia ou insuficiência cardíaca. Porém, eventos adversos que levam a alterações do ritmo cardíaco devem ser tidas em conta.

Introduction: Vagus Nerve Stimulation (VNS) is a neuromodulating approach which has demonstrated anti-arrhythmic effects on various animal studies. However, effects in humans are still unclear. This systematic review aims to evaluate and synthesize the available evidence regarding the effects of VNS on the susceptibility of ventricular arrythmias in humans. Methods: We included all longitudinal studies (i.e., randomized clinical trials and observational studies) and case-studies from PubMed, Scopus and Web of Science, until January 2022, evaluating the effects of VNS on the incidence of ventricular tachycardias and on the value of T-Wave Alternans (TWA), in human settings. Quality assessment of observational studies was done according to the Newcastle-Ottawa scale. The risk of bias of randomized clinical trials (RCTs) was assessed according to the Version 2 of the Cochrane risk-of-bias tool for randomized trials (RoB 2). Results: One RCT, three prospective cohorts and two case-studies were included. The RCT included showed a decrease on the number of ventricular tachycardias in patients with ST-segment elevation myocardial infarction (STEMI), and the three prospective cohorts showed a reduction of TWA values in patients with drug-refractory epilepsy or with heart failure. The two case-studies report adverse events regarding VNS, one of them resulting in episodes of recurrent ventricular tachycardia, and the other resulting on cyclical intermittent episodes of asystole. The quality assessment of the prospective cohorts revealed a medium level of quality. The risk of bias assessment of the RCT included revealed some concerns. Conclusions: VNS appears to have an anti-arrhythmic effect in humans with STEMI, heart failure or epilepsy. However, adverse events leading to cardiac arrhythmias must be considered.

Trabalho Final do Curso de Mestrado Integrado em Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 2022