O tema central do meu estudo é o cubismo, como movimento profundamente ligado à pesquisa e revolução espacial que ocorreu no início do século XX, e os seus cruzamentos com o desenvolvimento da arquitectura moderna. Tratar-se-á, portanto, de procurar encontrar os caminhos da intersecção entre os percursos das artes e da arquitectura, como domínio de novas concepções do espaço. Num contexto de transformações sociais profundas e inovações tecnológicas revolucionárias, surge um novo paradigma na arte europeia: o movimento, ou as relações dinâmicas. O discurso artístico deixa de se centrar na composição da pintura para girar em torno de conceitos como espaço, tempo e construção. Este novo vocabulário põe em evidência as questões centrais da nova arte, põe-se em causa a representação do espaço e a sua natureza: a forma de o conceber e apreender. O cubismo foi um movimento de especial importância neste período. Não sendo, no entanto, o primeiro a pôr em causa a rigidez e o carácter redutor da representação clássica, foi quem primeiro lançou as sementes da grande mudança no espaço pictórico. Partindo de uma noção dinâmica da realidade, decompôs a estrutura clássica, quebrou a simetria e introduziu ou reinterpretou o conceito de trajectória, construindo uma nova realidade, uma nova concepção do espaço, reinventando-o. O que será de grande proveito para as novas vias da arquitectura. Simultaneamente, e durante mais alguns anos, a arquitectura foi sofrendo mudanças de natureza semelhante às da pintura, rejeitando as concepções espaciais do passado e unindo esforços para a formulação de novos conceitos de espacialidade que alteraram radicalmente o ambiente construído. A arquitectura moderna repensou a habitação e o urbanismo, com base numa nova forma de pensar a relação entre o homem e o espaço, o que sugere fortes ligações com a teoria e prática cubistas. No fundo as duas práticas não evoluem de forma isolada, e as mudanças em ambas foram obviamente desencadeadas pelo mesmo motivo: uma mudança drástica na organização e mesmo na definição da sociedade. Tentar-se-á perceber a natureza dessa mudança e em que pontos se cruzam as respostas dadas pelas duas artes.

The main subject of this study is cubism as a movement deeply involved in the research and in the revolution of space that took place at the beginning of the 20th century, and its interrelations with de development of modern architecture. We will try then to find the forms of the intersection between the artistic and architectural approaches, as a field for new concepts of space. In a context of deep social changes and revolutionary technological innovations appears a new paradigm in the European art: movement, or the dynamic relations. The artistic language is no long based on the composition of the picture, to articulate itself around concepts such as space, time and construction. This new vocabulary underlines the fundamental questions of the new art, it questions the representation of space and its nature: the way we conceive and apprehend it. Cubism was a movement extremely important during this period. Although it wasn't the first to question the rigidity and the limited nature of classic representation, it was the movement that first threw the seeds of the profound change on the pictorial space. Based on a dynamic idea of reality, it decomposed the classic structure, broke the symmetry and introduced or gave a new meaning to the concept of trajectory, building a new reality, a new conception of space, re-inventing it. What will be of great interest to the new ways in architecture. At the same time, and for some years, architecture went by changes of similar nature as picture, rejecting space concepts of the past and uniting efforts to formulate new concepts of "spatialité" that drastically changed the constructed environment. Modern architecture analyzed housing and urbanism on the basis of a new way of conceiving the relation between man and space, which suggests strong ties with the cubist's theory and practice. In fact the two practices do not evolve in a separate way and, in both, changes arose obviously from the same reason: a drastic change on the organization and even on the definition of society. We will try to understand the nature of this change and in which points the answers gave by each one of these arts come together.