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Percam as esperanças os que imaginam que, í luz dotitulo escolhido para este editorial, escreverei sobre temasrelacionados í epidemiologia ou coisas afi ns. Talvez não osdecepcionasse, se falasse sobre os efeitos causais e distribuiçõesde frequência das mortalidades; afi nal, lecionei epidemiologiapor vários anos em curso de mestrado. Mas não fugireií regra que impus aos mais de 50 editoriais que escrevi paraessa revista. Parto, portanto, para as costumeiras digressões.Dois mil seiscentos e sessenta e seis é o ultimo romance doescritor chileno Roberto Bolaño, morto, prematuramente, deinsufi ciência hepática em 2003. A obra de quase mil páginastem me levado, de tão interessante, a ultrapassar a média detempo que dedico diariamente í leitura . É em uma passagemdela que encontro o que preciso para escrever esse editorial.Logo no inicio, há a descrição de uma cena de violênciaperpetrada por dois professores, um espanhol e um francês.Com o pretexto de defender a honra de uma colega da Inglaterraque os acompanhava no carro, quase matam, a socose pontapés, o motorista de táxi que os conduzia, autor dasofensas í citada colega dos dois.O que segue ao fato são períodos de grandes arrependimentos,de choro e de culpas. Certa noite, em conversatelefônica, trataram de se reconfortar e de lamentar, maisuma vez, o incidente. Entretanto, í quela altura, no íntimo,estavam convencidos de que o verdadeiro culpado havia sidoo motorista de táxi. As ofensas ditas por quem os conduziaforam sufi cientes para justifi car os atos de barbárie que cometerame, se naquele momento, o tal motorista aparecessediante dos dois, estavam certos de que completariam o trabalhoe o matariam.Gostaria de tornar-me um personagem de Bolaño e travarum diálogo com os dois professores para saber o que pensamda morte. É possível que me dissessem que, no contexto geraldo universo, a extinção é consubstancial com o real e que seencontra em todas as partes. Que essa morte viria, mais cedoou mais tarde, para todos. Contudo, justifi ca-se antecipá-laem outrem só por uma ofensa? Contraporia eu. C¢est la vie!Ou melhor C¢est la mort! Diria o personagem francês.Acho que meus interlocutores fi cariam em apuros. Nãoencontrariam amparo para me responder; reduzissem arealidade a um plano natural (cientifi cismo) ou reduzissemessa mesma realidade ao plano lógico (idealismo). E comoenfrentariam as suas próprias mortes?Foi exatamente essa a pergunta que me fi z ao assistir aentrevistas dos dirigentes máximos de Israel, em que justifi -cavam o episódio do assalto, por tropas israelenses, em aguasinternacionais, aos navios de bandeira turca que pretendiamlevar ajuda humanitária para a população da faixa de Gaza. Aoperação resultou em mais de uma dezena de mortos e outrastantas de feridos. Lamentamos o episódio, mas faríamos tudode novo, declararam os governantes. Se houve culpados, elesestão nos navios que ousaram desobedecer as ordens de deixarí mingua a população civil da faixa de Gaza.Tanto os professores, personagens de Bolaño, como osresponsáveis pelo desatinado assalto parecem seguir a máxima:"Olhamos a morte dos outros como uma mortalidademínima; a nossa própria morte, no entanto, a miramos comouma mortalidade máxima."
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